O AUTOR descreve aqui o que aconteceu aos missionários cristãos que viviam nas comunidades cristãs do século primeiro de nossa era, e provavelmente tinha muitos casos na memória, que ele conhecera pessoalmente. Essa passagem é paralela de Luc. 11:49-51 que a representa com mais exatidão. Ali (em Lucas) as palavras são postas nos lábios da «Sabedoria de Deus», o que provavelmente significa o Cristo ressurrecto (I Cor. 1:24), como se falasse através de um profeta cristão. «Esse oráculo, em sua forma primitiva, provavelmente foi proferido algum tempo entre 42 e 50 D.C., e se reflete nas amargas palavras do apóstolo Paulo, em I Tes. 2:16». (Sherman E. Johnson, in loc.). Antes dessas palavras serem escritas, Tiago já fora martirizado e Pedro e os demais apóstolos já haviam fugido de Jerusalém. O trecho de Luc. 11:49 reúne «apóstolos e profetas», pelo que temos aqui uma referência aos profetas cristãos, conforme também encontramos em I Cor. 12:28; Efé. 2:20 e 4:11. Os termos «sábios e escribas» (vs. 34) também foram usados para indicar os cristãos, em Mat. 13:52.
Os vocábulos profetas, sábios e escribas são conservados na terminologia cristã primitiva como nomes dos líderes espirituais, como títulos familiares prenhes (repleto, cheio) de sentido para os judeus. A profecia original de Jesus provavelmente usara esses termos. Gradualmente, todos esses títulos, exceto o de «profeta», foram desaparecendo; e, ao mesmo tempo, outros termos, tais como «ancião», «apóstolo», etc. substituíram aqueles outros, como títulos dos lideres da igreja cristã.
A história indica que os judeus (tanto quanto os romanos) crucificaram ou de outras maneiras maltrataram aos cristãos, antes mesmo da destruição de Jerusalém. (Ver Euséb. H.E., 3:32). Nessa secçâo de sua história, Eusébio narra como foi a crucificação de certo Simeão, filho de Clopas, durante o reinado de Trajano (material extraído de Hegesipo). Deve ter havido outros crentes martirizados, e, pelo livro de Atos, sabemos que alguns foram mortos à espada ou a pedradas. Intensa discussão gira em torno do termo de Lucas na passagem paralela (Luc. 11:49 Por isso diz também a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei; e eles matarão uns, e perseguirão outros), que diz: «a sabedoria de Deus». As interpretações são as seguintes:
1. Trata-se de uma referência às Escrituras, mas inexata, não encontrando localização exata, e sendo apenas uma expressão geral do fato que os verdadeiros discípulos devem sofrer. Essa interpretação não encontra muito favor entre os comentadores, e não é provável que transmita o sentido tencionado.
2. Alguns pensam que um escritor desconhecido (desconhecido para nós, bem entendido, mas não para os leitores dos tempos cristãos primitivos) é aqui citado, e que teria escrito um livro que poderia ter sido chamado A Sabedoria de Deus, provavelmente. Naturalmente temos aqui a mais pura conjectura; pode ser verdade ou não. Porém, não contamos com qualquer evidência sobre a existência desse livro; e, portanto, em geral, essa ideia tem sido rejeitada.
3. Muitos acreditam tratar-se de uma referência ao próprio Cristo, na qualidade de sabedoria de Deus; e alguns creem que esse foi um dos títulos que Jesus aplicou a si mesmo, mais ou menos como se chamou de «Filho do homem», «caminho», «porta», etc.
4. É possível que se trate de uma designação de Jesus como sabedoria de Deus, embora de autoria de Lucas, posto que Paulo aplicou essa mesma designação a Jesus, em I Cor. 1:24. O Cristo ressurrecto teria passado a ser conhecido como sabedoria de Deus. Alguns intérpretes opinam que Jesus não limitou o termo «profetas» aos tempos do N.T., mas também falou de todos os profetas do V.T., os quais haviam sido perseguidos pelo povo de Israel; e que, ao assim falar, falou como a eterna sabedoria de Deus, e não como o Messias daquele tempo. Talvez isso seja tornar esse versículo mais complexo e teológico do que Lucas tencionou. Seja como for, tal declaração seria verdadeira quer esse versículo a ensine, quer não.
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