"Portanto o Senhor mesmo vos dará sinal".
Este versículo, altamente controvertido, pode ser mais bem explicado se considerarmos quatro interpretações possíveis:
I. A Interpretação Histórica Somente. Considere o leitor os seguintes cinco pontos:
1. O sinal do Emanuel (vss. 10-17) corresponde ao sinal de UM-RESTO-VOLVERÁ (vss. 1-9). Ambos eram sinais históricos, aplicados àqueles tempos, e não a um tempo distante no futuro. Ambos diziam respeito à advertência ao rei Acaz para não envolver-se com a Assíria, porquanto Deus faria cessar a aliança nortista (Israel e Síria), em sua tentativa de apossar-se da nação do sul, Judá.
2. Sem importar se o nascimento virginal de Jesus é verdade ou não, teria de ser demonstrado com base em outros textos e através de outros argumentos. A palavra hebraica aqui, 'almah, significa "mulher jovem" (em idade de casar-se). Não é o equivalente exato do vocábulo grego parthenos, que verdadeiramente significa virgem. Essa tradução foi introduzida na Bíblia pela Septuaginta, que traduziu erroneamente o hebraico. A palavra "virgem", no hebraico, é bethulah. Embora se esperasse, dentro da cultura hebraica, que uma mulher jovem e solteira fosse virgem, as duas palavras não são sinônimas e não deveriam ser tratadas como tais. A aparição da palavra parthenos, no Novo Testamento (ver Mat. 1.23) foi uma perpetuação do erro de tradução cometido na Septuaginta. E o uso pelo autor do evangelho de Mateus foi uma acomodação ao seu dogma, e não uma verdadeira tradução do que Isa. 7.14 significa originalmente. Por "acomodação" queremos dar a entender o uso de um texto do Antigo Testamento, desconsiderando seu significado original, porque as palavras se prestam para o novo significado.
3. O bebê que nasceria no futuro foi chamado aqui de Emanuel porque o sentido de Seu nome, tal como o sentido do nome Shear-Jasube (vs. 3) — UM-RESTO-VOLVERÁ — revela o sentido do sinal. "Emanuel" significa "Deus conosco". Isso quer dizer que, se o conselho de Isaías fosse aceito pelo rei Acaz, e este não se aliasse ao rei da Assíria, então Deus, estando com Judá, livraria a nação da ameaça que vinha do norte.
4. Notemos que o bebê Emanuel não seria pessoalmente o libertador, mas somente um sinal da libertação. De fato, se Acaz aceitasse o conselho do profeta Isaías, o livramento de Judá ocorreria muito antes do nascimento do bebê. E o vs. 16 confirma esse ponto de vista.
5. O bebê que nasceria talvez fosse outro filho de Isaías; ou talvez fosse um filho do próprio rei Acaz com uma nova esposa. Ou então alguma outra donzela, que eles conheciam, seria a mãe escolhida do bebê. O importante não era quem seria a mãe, mas o nome dado ao bebê é que seria o sinal de livramento. Nada há no texto que fale de um nascimento miraculoso, quanto ao segundo sinal, tal como não houve nada de miraculoso do sinal do filho de Isaías, UM-RESTO-VOLVERÁ. Os sinais estavam nos significados dos nomes.
II. A Interpretação Profética Somente. Considere o leitor estes cinco pontos:
1. A profecia é messiânica e foi dada a Isaías por causa da similaridade entre as duas situações: livramento necessário para Judá da invasão nortista; livramento providenciado para o mundo inteiro.
2. Mesmo que a palavra hebraica 'almah não signifique, primariamente, virgem, Mateus corretamente lhe deu esse sentido, por inspiração divina, o que ultrapassa o mero significado da palavra. Aquilo que e dado por inspiração divina transcende a qualquer consideração de acomodação.
3. Emanuel seria Deus conosco no sentido amplo do Messias e de Sua missão em favor de todos os homens. A profecia foi dada "à casa de Davi", e não a Acaz.
4. O próprio Emanuel seria o libertador. O vs. 16 não deve ser tomado tão literalmente.
5. O bebê nasceria da virgem Maria, pois esse é o ensinamento dos evangelhos de Mateus e Lucas. Mais do que mero nome está envolvido; uma pessoa é que faria a diferença, Jesus Cristo, Aquele que livra o mundo de todos os pecados.
III. A Interpretação Histórica e Profética. Não há razão para uma severa dicotomia que nos force a aceitar a primeira ou a segunda interpretação. Portanto, que o leitor considere estes cinco pontos:
1. A profecia tem ampla aplicação à época de Isaías; o livramento de Judá poderia ter sido obtido se Acaz obedecesse às orientações do profeta. Mas isso simbolizava maior livramento a ser cumprido na esfera universal, e não em uma esfera local. Não precisamos supor que o próprio Isaías compreendeu as implicações a longo prazo de sua profecia, que transcendiam ao seu entendimento.
2. Quanto a uma aplicação histórica, não temos de entender o vocábulo hebraico 'almah com o sentido de "virgem", mas quanto à aplicação profética (a parte messiânica) essa é a maneira pela qual o compreendemos.
3. Quanto à aplicação histórica, o sentido de Emanuel se aplicava àquela época. Mas, quanto ao tempo profético (messiânico) referido, somente pode estar em escopo o Logos encarnado.
4. Havia um livramento sugerido para os dias de Isaías; quanto ao tempo profético (messiânico), está em vista Cristo, o Libertador.
5. Quanto ao tempo histórico, o bebê teria um nascimento natural; quanto ao tempo profético (messiânico), pensamos em um nascimento sobrenatural.
IV. A Interpretação de Aplicação Espiritual. Mesmo confessando que a primeira das três interpretações é a correta, faríamos bem em não furtar a igreja da piedosa aplicação do texto ao Messias. Não precisamos supor que Isaías compreendeu a questão nesses termos. As palavras tendem a uma aplicação espiritual, e há valor naquilo que tem sido reconhecido pela igreja através dos séculos. Uma das grandes doutrinas da cristandade é que "Deus está conosco". O altar mais elevado não é aquele que foi erguido ao Deus desconhecido, mas aquele que eleva os homens a Deus, por meio da missão do Messias.
A misericórdia tem um coração humano;A piedade tem uma face humana;O amor faz a forma humana tornar-se divina;E a paz usa uma vestidura humana. (William Blake).
O Emanuel, tendo assumido forma humana, eleva os homens a Deus, para que possam compartilhar da natureza divina (ver Rom. 8.29; I João 3.2; II Cor. 3.18). Ver no Dicionário o verbete intitulado Emanuel.
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